SANTIAGO foi durante a Idade Media, a zona mais antiga, mais concorrida e mais celebrada de todo o noroeste peninsular.
Jerusalém e Roma, quiçá, mais importantes como grandes centros de cristandade e locais de peregrinações. Santiago, porém, assemelhando-se a essa grandeza, ultrapassou-a e foi até superior porque teve o condão de erguer nestas paragens ignotas a que os romanos apelidavam de «finisterra», um só caminho, uma só estrada, um só roteiro.
A Galiza alumiou então ao mundo uma nova estrutura espiritual, que em breve se transformou numa aculturação de ideias, de costumes e técnicas, de civilizações.
Foi pelo Caminho de Santiago que circularam rainhas e príncipes, pintores e artistas, trovadores e jograis, as cantigas milagreiras, os romances heróicos, as narrativas e aslendas que encheram a geografia literária medieval.
Toda a paisagem física, monumental e humana rimou pelo eco dos peregrinos, pela andadura dos viajantes, pelos bordões dos romeiros. Por montes inóspitos, pontes e vales, pelo «caminho francês», pelo «caminho português» ou pelo caminho de «PuenteLa Reina a Santiago» construiu-se uma nova Europa, uma nova sociedade. Mais ainda, deu-se um espírito ecuménico a uma humanidade que só tinha como ponto de apoio uma vieira, uma sacola e um cajado e quiçá uma fé imensa nesses caminhares inseguros até à morada eterna.
E porque Santiago neste aspeto foi universal, numa Idade Média recém saída dos fantasmas do séc. X, por isso mesmo, e porque nos julgamos participantes deste fenómeno criativo e comunitário, aqui trazemos uma pequena síntese do que foi e do que é este movimento cultural, agora também europeu, da revitalização e consagração dos Caminhos de Santiago.
«O Caminho de Santiago significou na história do Ocidente uma das mais importantes vias de peregrinações e intercâmbios da cultura. Todos os países da Europa medieval contribuíram ativamente para a sua criação e na realidade nenhuma nação lhe é historicamente estranha. O Caminho de Santiago foi um crisol em que se fundiram o sentir e o pensamento de muitos homens e de onde nasceu constituído o espírito ocidental»
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